domingo, 5 de fevereiro de 2012

Sara Tavares - Ponto de Luz


VaiVém Tricolor

O céu estava lavrado de rosa e marfim em ondas gigantes como se os deuses tivessem dado uma festa e se tivessem esquecido de a convidar. Ela olhava o céu como alguma nostalgia, como se soubesse de cor, como era a vida naquele lugar. Baixava a cabeça e tinha as coisas mundanas da terra ao seu redor que a cansavam. Continuava. Continuava e continuava. Um dia, mais um dia e era sempre a mesma coisa. Mais um dia. Nada fazia prever que as coisas mudariam de lugar. Assentaram o seu avental e ficaram para jantar. Ela se demorou um pouco.
Já passava pouco da meia noite quando o sono venceu. Não era preciso grandes batalhas. O desejo de aquele dia acabar e começar outro era por si só aliado do grande Morpheu. Repetição. Repetição. Um dia na sua vida era a repetição do dia seguinte e do anterior. As fitas daquelas cassetes antigas, já saltavam a olhos vistos enroladas em canetas bic...Mas ela não se incomodou. E continuou. Nada mais lhe restava fazer. Se não continuar. A repetir.
Teria se hospedado naquele anexo, há uns 4 anos. Acomodara se àquele espaço. Tinha medo de ir lá para fora. A viagem que a trouxera até ali tinha sido muito demorada e penosa. Abrir a porta e ir à procura do mundo outra vez tornara se o seu pior pesadelo.
O sofrimento ali dentro era dilacerador. Mas o medo de sair negava todos os seus sonhos, os seus desejos e aspirações. Cortou as suas asas várias vezes, não fossem elas trai la durante o sono...
A audição de uma hora sobre si, gerou uma catarse que ela desconhecia. Entendeu-a mais tarde. Ao ver o voo daquele pássaro que nunca tinha experimentado a liberdade. Como se da sua liberdade tratasse.
Entendeu que precisava das suas asas e que não podia mais cortá las mas sim desacorrentar se. Largar as correntes que a prendiam ali.
Procura o anexo como lugar de conforto. De isolamento. De procura de si.
Iria encontrar se?

domingo, 29 de janeiro de 2012

Descoberta

Hoje fiz esta descoberta com a qual fiquei extasiada!
Acidentalmente, enquanto buscava canções.
Ken Wong: Artista, Ilustrador e Designer!!






Histórias para contar...

Todos temos uma história para contar...Nem sempre fácil. Nem sempre a querermos dar a conhecer. Tentamos esconder. Mas há pensamentos, ações, experiências que ficam marcadas no nosso rosto para sempre e ninguém as consegue apagar, disfarçar! Impressões que ficam registadas com um cunho pessoal em quê transformamos as nossas vidas.
Quem vive aprisionado de uma ideia, de um desejo acaba por ficar enjaulado em sim mesmo e a prisão pode ser perpétua!
Há sempre uma escolha. A liberdade. Há quem fique pela procura e apenas almeje a tão desejada. Há quem nunca perceba que tem escolha e há também quem não veja as grades à sua volta. Constroem-se muros intransponíveis na alma, cercas de arame farpado no coração e caem-se em abismos. Autênticos buracos negros que nem um espetro de vida deixam escapar.

sábado, 28 de janeiro de 2012

Frida Kahlo



Termina amanhã no Museu da Cidade uma exposição de fotografias da pintora mexicana.
Casa da América Latina traz a Lisboa uma seleção de 257 fotografias das 6.500 que compõem o acervo da Casa Azul/Museu numa exposição intitulada "Frida Kahlo - As suas fotografias". Esta é a primeira apresentação internacional da exposição que pode ser visitada de 4 de novembro de 2011 a 29 de janeiro de 2012, no Pavilhão Preto do Museu da Cidade.



LeonTrotsky e Frida Kahlo  o affair





quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Passos...

Percorria as ruas vazias em passos lentos, premeditados. Escolhia olhar o céu ao seu redor, o voar dos pássaros e sentir a brisa de fim de tarde no rosto. Caminhava como uma pantera que percorre as pradarias num passeio invulgar.
Era a hora do recolher.
A si.
Refletia sobre a mostra de exposições e cinema no Centro de Artes daquela pequena cidade. A escolha dos temas, das imagens, os porquês...
Fazem-lhe companhia desde que se lembra de ter um cérebro pensante...As razões, as causas, as explicações...as análises, justificações e multiplicações. Era o desdobramento de si mesma. O prolongamento desse sentimento que a caracterizava. O que está por detrás, o que é escondido, o que se oculta.
Hoje voltou a si como há muito tempo não acontecia...julgou ter-se perdido para sempre.
Hoje e só hoje encontrou as placas que indicavam o caminho de casa.
Não veio para jantar. Inventou uma desculpa e continuou.
Um dia virá. Porque

Na realidade nada acaba.


terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Pedro Paixão



Fui à estante ávida por um livro, por páginas que me sossegassem, que me enchessem o espírito, já inquieto por ter demorado tanto a procurá-lo.
Tirei-o sem hesitar. E é como se fosse a primeira vez. A descoberta. A alegria. 
É certo. Tenho uma "nova" paixão. A de Pedro.




segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Adriano Correia de OLiveira


Oiçam estas vozes e deixem-se embalar!



Imagens Proibidas

Pedro Paixão
Um escritor que eu aprecio bastante. Por tudo o que deixa transparecer sem falsos pudores da vida mundana de quem já atingiu uma maturidade inteletual e emocional cada vez mais raras nos dias presentes.
O que é esta coisa chamada de amor?


Esta é a minha playlist que vou criando ao longo de todas as audições e experiências que vou tendo. 
As BSO de um filme, a banda de um anuncio ou mesmo a música de um fim de tarde, de um sentimento ou de um estado de espírito.
Estão cá todas!
Gozem-na bem!

domingo, 22 de janeiro de 2012

MEC

Como é que se Esquece Alguém que se Ama?
Como é que se esquece alguém que se ama? Como é que se esquece alguém que nos faz falta e que nos custa mais lembrar que viver? Quando alguém se vai embora de repente como é que se faz para ficar? Quando alguém morre, quando alguém se separa - como é que se faz quando a pessoa de quem se precisa já lá não está? 
As pessoas têm de morrer; os amores de acabar. As pessoas têm de partir, os sítios têm de ficar longe uns dos outros, os tempos têm de mudar Sim, mas como se faz? Como se esquece? Devagar. É preciso esquecer devagar. Se uma pessoa tenta esquecer-se de repente, a outra pode ficar-lhe para sempre. Podem pôr-se processos e acções de despejo a quem se tem no coração, fazer os maiores escarcéus, entrar nas maiores peixeiradas, mas não se podem despejar de repente. Elas não saem de lá. Estúpidas! É preciso aguentar. Já ninguém está para isso, mas é preciso aguentar. A primeira parte de qualquer cura é aceitar-se que se está doente. É preciso paciência. O pior é que vivemos tempos imediatos em que já ninguém aguenta nada. Ninguém aguenta a dor. De cabeça ou do coração. Ninguém aguenta estar triste. Ninguém aguenta estar sozinho. Tomam-se conselhos e comprimidos. Procuram-se escapes e alternativas. Mas a tristeza só há-de passar entristecendo-se. Não se pode esquecer alguem antes de terminar de lembrá-lo. Quem procura evitar o luto, prolonga-o no tempo e desonra-o na alma. A saudade é uma dor que pode passar depois de devidamente doída, devidamente honrada. É uma dor que é preciso aceitar, primeiro, aceitar. 
É preciso aceitar esta mágoa esta moinha, que nos despedaça o coração e que nos mói mesmo e que nos dá cabo do juízo. É preciso aceitar o amor e a morte, a separação e a tristeza, a falta de lógica, a falta de justiça, a falta de solução. Quantos problemas do mundo seriam menos pesados se tivessem apenas o peso que têm em si , isto é, se os livrássemos da carga que lhes damos, aceitando que não têm solução. 
Não adianta fugir com o rabo à seringa. Muitas vezes nem há seringa. Nem injecção. Nem remédio. Nem conhecimento certo da doença de que se padece. Muitas vezes só existe a agulha. 
Dizem-nos, para esquecer, para ocupar a cabeça, para trabalhar mais, para distrair a vista, para nos divertirmos mais, mas quanto mais conseguimos fugir, mais temos mais tarde de enfrentar. Fica tudo à nossa espera. Acumula-se-nos tudo na alma, fica tudo desarrumado. 
O esquecimento não tem arte. Os momentos de esquecimento, conseguidos com grande custo, com comprimidos e amigos e livros e copos, pagam-se depois em condoídas lembranças a dobrar. Para esquecer é preciso deixar correr o coração, de lembrança em lembrança, na esperança de ele se cansar. 

Miguel Esteves Cardoso, in 'Último Volume'

A Paixão de Sofia

Acabaram as aulas. Época de reuniões, pautas e avaliações. O Tempo alarga o laço, respira-se o Natal e as férias findadas trazem um novo ano. 2011 aproxima-se! Apenas resta ansiar pela tão desejada viagem. Londres. Finalmente, Londres!
Sofia almoçou em casa, fez a sua pausa no café Pereira ao virar da esquina e pousou os olhos nos seus colegas sentados a fixarem a sua presença...João falou-lhe dos seus desaires e aventuras sempre com o seu humor caraterístico. Sofia encantou-se. 
3 de Janeiro. A viagem tinha sido um fracasso. Depois de aturar uma neurótica com o complexo de inferioridade, Sofia desfrutou de uma viagem a 3 sozinha. Que aborrecimento! Todo aquele investimento para começar o ano com a desilusão de uma amiga que pensava ser sua. Desengane-se quem pensa possuir pessoas. A minha amiga. Não é minha, nem de ninguém, nem de si própria. Somos livres enquanto pássaros esvoaçantes, sem asas somos o que outros querem de nós!
Começo do 2º período. Sofia e João foram partilhar casa. 5 dias por semana. 4 a 5h por dia...Um mês. E uma semana...
Zangaram-se em Fevereiro, em Março, em Abril João decidiu sair de casa. Tornara-se incomportável. Sofia não queria acreditar. Estava a viver a maior paixão da sua vida. Desejava-o como se deseja a nossa pele ao sol, debaixo de um casaco quente, debaixo de um chuveiro. Aquela pele que não era sua. Que ela sentia que lhe pertencia porque lhe entrara nas vísceras do seu corpo, nos recônditos mais escusos da sua alma, em toda a grandeza do seu ser. Ela queria-o para si. 
João quase perdera o seu emprego. Sofia levara-o à loucura. Não dormia, não comia, não se concentrava. Sofia entrara dentro de si e ocupara todo o seu espaço. Nada sobrava a não ser aquele desejo incontrolável por aquela mulher misteriosa e sedutora, assombrado pela dúvida dilacerante: Quem era Sofia? 
O romance acabou em Julho.
Pouco antes, João estava desesperado. Perdera Sofia para sempre. Suplicou, chorou, implorou mas Sofia permanecera inalcansavel durante 3 semanas. Nem um palavra. Aos poucos cedeu. E o romance também...
Outubro - João e Sofia não se falam. João encontrou uma forma de pôr Sofia a falar consigo. Um presente. O presente. Sofia descobriu um dia depois que tinha sido enganada. Mais uma vez. Jamais lhe perdoaria. João iria sofrer. João subestimara Sofia. Baixou a cabeça e seguiu.
Sofia com o coração despedaçado ergueu-se e continuou.
Sofia continua sozinha.
João não tolera a palavra solidão...
Sofia sofre...
João...também!


Fábrica Braço de Prata


Antes um local onde se fabricava material de guerra. Agora, o lugar onde se discutem ideias, se fabricam conceitos e se cria arte. Várias salas, diversas artes, livraria; um sem fim de propostas encerradas no mesmo espaço. Para além de concertos, ainda encontra neste espaço lançamentos de livros e discos, iniciativas de dança, desenho e exposições de arte, ciclos de cinema, sessões de poesia, tertúlias, workshops e stand up comedy. Atrás de cada porta um segredo, neste que é o mais improvável espaço cultural da cidade de Lisboa.

Carta (Esboço)


Lembro-me agora que tenho de marcar um 
encontro contigo, num sítio em que ambos 
nos possamos falar, de facto, sem que nenhuma 
das ocorrências da vida venha 
interferir no que temos para nos dizer.
Muitas vezes me lembrei de que esse sítio podia 
ser, até, um lugar sem nada de especial, 
como um canto de café, em frente de um espelho 
que poderia servir de pretexto para reflectir a alma, a impressão da tarde, 
o último estertor do dia antes de nos despedirmos, 
quando é preciso encontrar uma fórmula que 
disfarce o que, afinal, não conseguimos dizer.
É que o amor nem sempre é uma palavra de uso, 
aquela que permite a passagem à comunicação ; 
mais exacta de dois seres, a não ser que nos fale, 
de súbito, o sentido da despedida, e que cada um de nós 
leve, consigo, o outro, deixando atrás de si o próprio 
ser, como se uma troca de almas fosse possível 
neste mundo. Então, é natural que voltes atrás e 
me peças: «Vem comigo!», e devo dizer-te que muitas 
vezes pensei em fazer isso mesmo, mas era tarde, 
isto é, a porta tinha-se fechado até outro 
dia, que é aquele que acaba por nunca chegar, e então 
as palavras caem no vazio, como se nunca tivessem 
sido pensadas. No entanto, ao escrever-te para marcar 
um encontro contigo, sei que é irremediável o que temos 
para dizer um ao outro: a confissão mais exacta, que 
é também a mais absurda, de um sentimento; e, por 
trás disso, a certeza de que o mundo há-de ser outro no dia 
seguinte, como se o amor, de facto, pudesse mudar as cores 
do céu, do mar, da terra, e do próprio dia em que nos vamos 
encontrar, que há-de ser um dia azul, de verão, em que 
o vento poderá soprar do norte, como se fosse daí 
que viessem, nesta altura, as coisas mais precisas, 
que são as nossas: o verde das folhas e o amarelo 
das pétalas, o vermelho do sol e o branco dos muros. 

Nuno Júdice, in “Poesia Reunida” 

sábado, 21 de janeiro de 2012

Guimarães e Braga




Nanni Moretti


Nanni Moretti é o presidente do júri de Cannes 2012


Habemus Papam (2011) - Um filme que não leva à critica fácil mas a um mundo secreto, com todo o humor, desta feita, subtil, de Nanni Moretti. Imperdível!
O último filme de Nanni Moretti que eu tive o privilégio de assistir no Centro de Artes de Sines (CAS). 
Um privilégio por ser um filme de um realizador que eu gosto muito, mas também porque o auditório do CAS encheu. Para quem não conhece Sines, são poucos os acontecimentos culturais que por lá passam. O CAS é o único difusor da palavra universal. Traz-nos todas as formas em que ela é falada, em todas as expressões de arte,em todas as línguas e linguagens.
O cinema passa em ciclos temáticos, com um custo de 2€ o bilhete e nem sempre as escolhas das películas atraem público.
Nanni Moretti ofereceu-nos lotação esgotada.


Vegetarianismo



I need another world



Antony and the Johnsons - Another World 


I need another place
Will there be peace
I need another world
This one's nearly gone
Still have to many dreams
Never seen the light
I need another world
A place where I can go
I'm gonna miss the sea
I'm gonna miss the snow
I'm gonna miss the bees
I miss the things that grow
I'm gonna miss the trees
I'm gonna miss the sun
I miss the animals
I'm gonna miss you all
I need another place
Will there be peace
I need another world
This one's nearly gone
I'm gonna miss the birds
Singing all there songs
I'm gonna miss the wind
Been kissing me so long
Another world
Another world
Another world
Another world

Tempo


Tudo o que não fui, não serei.
Reflexo apenas, daquele espelho que se partiu em mil pedaços na viagem do Tempo.
Ousa apenas a miragem espreitar daquele canto onde ela adormecia, vezes sem conta.
Percebeu mais tarde, muito mais cedo do que devia, que a escolha deles, talharia a sua vida para sempre!

Olha ao seu redor e redescobre a força para se erguer do alto das torres de marfim que balizam as suas viagens. Ao centro da terra quer ir. Descobre porém, o seu epicentro. E lá todos os sismos têm uma magnitude imensurável aos olhos do seu coração. 

Não a deixam esquecer que o buraco negro que se instalou em sua alma desvanecerá, se ao menos, se se permitir a amar!
Aqueles dias de frio, chuva e desalento, inóspitos de criação dão-lhe forças para desistir.
A viagem que não tem coragem de fazer.
Àquele lugar onde nunca foi, quem é hoje!